Li recentemente o livro de Elie Wiesel, que retrata histórias dos mestres da Bíblia,do Talmud e do Hassidismo,cujo nome é o título deste post. Livro belissímo,muito instrutivo,mas ao mesmo tempo instigante,pois nos apresenta questionamentos e respostas,seguidas de novas perguntas. Um bom exercício intelectual acompanhar Wiesel por seus passeios.
Elie Wiesel,judeu nascia em uma pequena cidade de Sighet,hoje na atual Romênia,à época Hungria,em 1928, ainda menino foi levado ao campo de Concentração. A experiência é relatada no livro “ A Noite”,cuja leitura inquietante nos leva ao testemunho do Mal Encarnado e do quão sombrio o ser humano pode ser. O estraçalhamento das pessoas nos campos de morte nazistas,de seus mais básicos direitos,de sua humanidade. O coração e alma de Wiesel experimentam a “Noite”. Talvez o que algum místico tenha chamado a “ Terrível Noite da Alma “.
“ O Terror era mais forte que a fome” ,Wiesel escreve. Mais adiante relata- “ a Noite avançava. De todos os blocos,outros prisioneiros continuavam a afluir,capazes,repentinamente ,de vencer o tempo e o espaço,de submetê-los à sua vontade. ‘ O que és Tu,meu Deus’,eu pensava com raiva,” comparado a essa massa dolorida que vem gritar a Ti,sua fé,sua raiva,sua revolta ? O que significa Tua grandeza,Mestre do Universo,diante de toda essa fraqueza,diante dessa decomposição e dessa podridão ?” Por que ainda pertubar seus espíritos doentes,seus corpos enfermos ?”. E lamenta não apenas a dor da destruição física e moral, a ignomínia a que povo judeu foi submetido, mas ao extermínio de um modo de viver, a vida nos Sthetls da Europa Central e Oriental. “ A Noite”, é um livro de menos de 120 páginas muito denso e pesado. Ao tocar sua palavras sentimos a dor de quem escreveu.
Outro livro de Wiesel, “ Almas em Fogo”, relata a vida dos primeiros mestres do Hassidismo,suas histórias,sua devoção simples e apaixonada. Neste livro percebe-se ainda a dor da perda do modo simples de vida nas cidades e aldeias da Europa,sua alegria,mesmo em meio a repressão e desconfiança,que os cercava. Sentimos a saudade de Wiesel desta época.
Em “ Homens sábios e suas histórias”, encontramos um Elie Wiesel,mais leve,porém não menos desafiador. Inicia sua jornada com o maior comentarista da Bíblia,Rashi, que viveu no norte da França e na Alemanha. Um curioso caso de erudito não-profissional ( Rashi, vivia como vinicultor),que era um respeitado Rabino e grande mestre do judaismo. “ O que diz Rashi ? “, Wiesel se pergunta,quando estuda algum trecho difícil do Talmud ou da Bíblia. Ficamos sabendo também que após a guerra,Wiesel,continua seus estudos talmúdicos ,interrompidos pela Shoah,que passou semanas estudando um único versículo, até chegarem a compreensão do mesmo. E desfilam então vários personagens, Abraão,Sara e Agar,as disputas domésticas e a separação da família tentando evitar mais conflitos. Um midrash :os Irmãos Isaac e Ismael se reunem na tumba de Abraão: “ A União dos irmãos junto a sepultura paterna também nos recorda uma verdade que muitas gerações tendem a esquecer: Isaac e Ismael-ambos-são filhos de Abraão.” Outro momento,refletindo o episódio de Sodoma e Gomorra comenta ,rementendo fontes midráshicas,sobre o como a compaixão era uma afronta a lei destas cidades, e como uma moça foi punida por demonstrar compaixão por um estrageiro. Deus ouve o clamor da jovem “ sede meu Juiz e de Sodoma” “ Gosto de pensar que, quando uma vítima,qualquer vítima sente dor,Deus escuta. Quando uma pessoa,qualquer pessoa é torturada,Deus resolve fazer justiça “.
São perguntas e mais perguntas,belas e emocionante histórias,sempre novos questionamentos,olhamos o mesmo relato por tantos ângulos que saímos enriquecidos. Elie Wiesel sempre manteve como preocupação os temas do anti-semitismo e do genocídio,alertando as novas gerações os perigos que sempre rondam as civilizações e acabam em tragédias de proporções gigantescas. Comprometido com as causas do povo judeu,sempre apoiou ao Estado de Israel,envolveu-se no apoio aos imigrantes judeus etíopes,criando um centro educacional, a causa dos judeus da antiga União Soviética e mais recentemente luta contra o massacre em Darfur. Em 1986 Elie Wiesel é laureado com o Prêmio Nobel da Paz,após o qual estabelece a Elie Wiesel Foundation for Humanity com a missão de “ combater a indiferença, a intolerância e a injustiça”. Os esforços da fundação recentemente foram atrapalhados pela fraude envolvendo a Bernard Madoff Investment Securities,onde a fundação tinha cerca de 15 milhões de dólares investidos.
Para saber Mais:
Foto: Wiesel( a dir.) com Ytzhak Rabin.
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